Hoje vou fugir de mim
Partir para um lugar bem distante
Que ficou no passado longínquo
Atravessar a névoa do tempo
E voltar onde eu era feliz.
Todos temos um ponto na vida
Marcado com uma pequena cruz
Como uma beira de estrada
Onde deixamos alguém amado
E que também nos amou
Um ponto que será para sempre
Uma pequena luz nesse breu
Que se tornou o nosso passado
Como a delicada chama da vela
Que nos seguirá depois da morte
Esse lugar chamado passado
Que sempre sonhamos recuperar
Que um dia, leviano, nos deixou ir,
E agora em desespero o buscamos
Tentando reter em nossas mãos
A neblina das manhãs frias do outono
A claridade estridente do sol nascente
Ou o som do canto do rouxinol matinal
Nunca mais o teremos conosco,
Esse passado já vivido.
Mas existe, em algum ponto
Dentro de nós um portal secreto
Que nos abre essa porta sonhada
E nos leva de volta a esse tempo
Uma passagem que só encontramos
Quando conseguimos sonhar.
E voltamos, então no ponto do tempo
Em que devíamos ter permanecido.
Esse tempo, impassível e cruel,
Que imóvel nos olha enquanto
Passamos, todos nós, rumo à morte
Que nos espera sempre, impaciente,
Na derradeira curva do nosso caminho