
Seu tamanho diminui a meus olhos conforme vou soltando a linha. Minha pipa, tão linda, voa longe. Presa a mim por um fio quase invisível, ela dança seu estranho balé, sobe, cai, flutua… e me encanta. Às vezes preciso corrigir seu rumo, ela, rebelde, cabeceia e tenta resistir. Entra em contradança com a rabiola e me faz sorrir.
Ela quer mais. Dou linha. Ela quer mais.
Na verdade, ela quer se soltar e seguir seu destino de liberdade. Não sabe – ingênua que é – o que a espera se for sozinha. Sua essência é ser pipa, estar ligada a mim por um fio e ser controlada para manter seu voo. Não voaria sozinha, apenas seria levada pelo vento e destroçada ao primeiro obstáculo.
Furiosa por não se soltar, ela cabeceia com força, olha-me com raiva. Eu relevo. Mesmo o filho mais rebelde, um dia se acomoda e volta manso ao ninho.
Dou-lhe toda a linha que tiver, toda a linha que ela quiser. Mas mantenho a outra ponta presa em mim. Não a abandonaria a sua própria sorte, para não ver sua ruína. Ela sobe mais um pouco.
Vê as nuvens se juntarem e escurecerem. A brisa, que a beijava e sustentava com carinho, agora começa a se transformar num vento que a quer levar para longe. Ela teme a chuva, pois não sobreviveria à água.
Olha para mim desesperada, pedindo ajuda. Não vou começar a trazê-la de volta agora.
Ainda há sol, podemos brincar mais um pouco.
Com carinho eu a construí. Com um sonho eu a idealizei. Porque o sonho nos permite fazer tudo o que precisamos para a nossa felicidade. Eu a sonhei, com meu sonho de liberdade, então a fiz. Não a perderei tão fácil.
Puxo um pouco a linha e ela volta a dançar. Olho para ela, lá no alto, e os raios de sol tornam a linha completamente invisível. Parece que nesse momento ela está livre.
Sei de sua invencível vontade de liberdade. Essa liberdade que ela jamais terá.
Lágrimas escapam de meus olhos, ao pensar em meu próprio sonho de liberdade, que jamais realizarei. Com todo cuidado, entre minhas mãos mantenho seguro, junto do meu coração, esse fio que nos liga, e lentamente começo a recolher a linha antes da tempestade que se anuncia.