
Sempre fui uma pessoa de coragem. Não pude, nunca, ser covarde ou demonstrar medo. Esse poema sempre foi – desde minha infância – um de meus prediletos, mostrando o total desprezo pelos covardes. Trata-se da narrativa, por um velho índio Timbira, da saga de um guerreiro Tupi, que foi feito prisioneiro e implorou pela própria vida. A maldição é lançada pelo pai do guerreiro considerado covarde. “I juca pirama”, ou “aquele que deve morrer”. Um poema forte, de rara beleza.

“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!”
“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.”
“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas como asco e terror!”
(Gonçalves Dias – Últimos Cantos)
(Imagem – banco de imagens Google)