Eu não sei amar sem liberdade (Vinicius de Moraes)

E quem sabe? Quem consegue amar sem liberdade? Como amar sem ser livre? Cassar a liberdade do outro em nome do amor é fácil, como se fosse possível alguém se adonar do outro. Mas ninguém aceita abrir mão da própria liberdade.
Não se abre mão da liberdade. Nem da vida. Nem do ar. Nem da alegria. Nem de nada em nome do amor. Dominar não é amar.
Convencionamos eternizar o amor. Vitaliciar a paixão recíproca. Se o amor empalidece, se a paixão esfria, ficam as cadeias sociais que obrigam à permanência encarcerada. E, assim, sufocar qualquer tendência à liberdade.
Convencionamos condenar a liberdade, como se fosse um mal.
Liberdade é a essência do ser humano. Liberdade é o termômetro do amor.
Se amamos, assim o fazemos por sermos livres para amar.
Não amamos compulsoriamente. Não sabemos amar por obrigação. Sequer amamos quem queremos. Um dia, simplesmente, descobrimos o amor brotado em nossa alma. E amamos. Sem medidas, sem limites.
Mas isso não pode ser o fim de nossa liberdade. Porque o amor não sobreviveria ao cativeiro.
Só ama quem é livre para amar.
E, o mais lindo do amor, é exatamente que, dentre todas as pessoas do mundo, amamos especialmente aquela determinada pessoa.
Amar não é perder as asas nem renunciar aos sonhos. Mesmo amando continuamos alados, e, se não voamos só, é porque queremos ficar. Não queremos partir em voo solo, preferimos compartilhar o ninho, os sonhos, os voos.
E, se temos a sorte de sermos correspondidos, com toda a liberdade de ir embora, ficamos.
Ficamos porque temos a liberdade de ir embora. Mas, se amamos, a liberdade nos permite permanecer.
É, portanto, necessário ser livre para poder amar.