Jardim de saudades (Memória)

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A vida é como um bosque. Por vezes cerrado, difícil de atravessar. Outras vezes, recanto de luz e poesia. Ao longo dos caminhos, flores em profusão. Flores do amor. Da paixão. Da saudade.

Flores: as cores da natureza. Para ressaltar a maravilha de todos os tons de verde contra o azul do céu, surgiram as flores. Com suas cores, tamanhos e formas variadas. Uma mais bela e exuberante do que a outra, encanto aos nossos olhos, alimentos de pássaros e de sentimentos.

Cada uma com seu destino. Morrer na haste ou ser colhida? Diz-se que colhemos as flores que mais gostamos; e cultivamos aquelas que amamos.

Colhidas, vão para os vasos de mesas e aparadores. Altares e sepulturas. Festas e velórios. Em cada arranjo, uma mensagem. De alegria ou de tristeza. De chegada ou de despedida.

Em meio a páginas de livros, guardo flores. E pétalas. Muitas flores e muitas pétalas. Recebidas de pessoas inesquecíveis, ainda que muitas vezes afastadas pelo decorrer da vida.

Flores ofertadas por amores e amigos. Mas sempre flores. Nada mais belo, mais singelo e mais emocionante do que receber flores. Seja uma singela flor, colhida apressadamente no canteiro da praça, seja um arranjo caprichosamente elaborado por mãos hábeis e olhos experientes em misturar cores, tamanhos e texturas. A emoção de receber é a mesma. Sempre.

Algumas vezes as flores são simbolicamente ofertadas. Na impossibilidade de ser uma flor real, entrega-se um afago, um olhar carinhoso, um abraço sincero. E nossa alma recebe como se fossem flores imateriais, que guardaremos para sempre.

São as rosas as mais belas, as mais perfeitas da natureza? Talvez, desde o botão de rosa, que já é lindo antes mesmo de se abrir, até a rosa exaurida em sua beleza totalmente exposta.

As margaridas, alegres em seus miolinhos de cores contrastante com as pétalas em sua volta.

As prímulas, efusão de cores. As orquídeas, elegantes e atemporais. A delicadeza do miosótis. A ostentação das tulipas coloridas.

Caminhos de hortênsias. Buganvílias nas beiras das estradas… Hibiscos nas praças, cravos e cravinas nos canteiros. Alamandas fazendo arcos nas passagens, onze horas, buquês de lantanas, gerânios, lírios, cíclames, flores do campo. A elegância das camélias e gardênias, a alegria do girassol e das astromélias. Cascata de petúnias. Dama-da-noite atendendo pedidos das pessoas no tempo da florada, com seu perfume inconfundível.

São tantas as flores, que é difícil escolher uma.

Tive, um dia, meu jardim de rosas. Lindas. Rosas brancas, vermelhas, cor-de-rosa, coral e suas nuances. Uma roseira – arbustiva e linda – me retribuía meu amor com rosas de duas cores diferentes. Tanto mais eu as amava, mais elas floresciam.

Foi-se meu jardim de rosas. Foi-se meu tempo de cultivar flores. Mas tudo deixou saudade. Cultivo, hoje, em minha vida, um vasto jardim de saudades. Das pessoas que se foram (especialmente meu pai, que partiu recentemente para conhecer as flores do céu). De situações alegres. De tempo em que as risadas eram mais frequentes que as lágrimas. Saudade de ter mais amanhãs do que ontem na minha vida.

Hoje, à falta de um jardim de flores coloridas, trago em mim esse jardim de flores de saudade.

(publicado pela Oficina do Livro na antologia Um Jardim em Palavras)

(Imagem: banco de imagens Google)

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