Hilda Hilst nasceu em 21 de abril de 1930, em Jaú, no estado de São Paulo. Sua mãe — Bedecilda Vaz Cardoso — era portuguesa, e seu pai — Apolônio de Almeida Prado Hilst — era produtor de café e escritor.

Em 1952, formou-se em direito, mas exerceu a profissão apenas por um ano e decidiu se dedicar exclusivamente à literatura. Mais tarde, casou-se como o escultor Dante Casarini, e foram morar na Casa do Sol, lugar que se tornou um ponto de encontro de artistas.
A escritora, que faleceu em 04 de fevereiro de 2004, em Campinas, teve uma vida dedicada, principalmente, à poesia, mas, também, escreveu narrativas e peças de teatro. Suas obras são caracterizadas pelo monólogo interior, erotismo e questionamentos existenciais.

A escritora começou a estudar, em regime de internato, no colégio de freiras Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, em 1937. Ao sair do internato, em 1944, passou a morar na casa da senhora Ana Ivanovna, ainda em São Paulo. No ano seguinte, iniciou seus estudos no Instituto Presbiteriano Mackenzie.
Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1948. No ano seguinte, conheceu a escritora e amiga Lygia Fagundes Telles. Em 1950, publicou seu primeiro livro de poesia: Presságio.
De 1953 a 1954, trabalhou em um escritório de advocacia, mas percebeu que não tinha talento para o direito e que devia se dedicar exclusivamente à literatura. Assim, depois de fazer uma viagem ao Chile e Argentina, voltou a morar com a mãe. Contudo, em 1957, decidiu morar em Paris durante seis meses, e, em 1960, esteve em Nova Iorque.
Hilda Hilst é considerada uma autora pertencente à terceira geração modernista (ou pós-modernismo). Por isso, suas obras apresentam características como:
Fluxo de consciência
Questões existenciais
Caráter intimista
Fragmentação
No entanto, as obras da autora possuem algumas peculiaridades:
Ironia
Erotismo
Hermetismo
Linguagem obscena
Foco no universo feminino
Narrativa não linear
Mistura de gêneros literários
Uso de palavras de diversos idiomas

(Fonte: Literatura – Escritores brasileiros)
Tateio
Tateio. A fronte. O braço. O ombro. O fundo sortilégio da omoplata. Matéria-menina a tua fronte e eu Madurez, ausência nos teus claros Guardados. Ai, ai de mim. Enquanto caminhas Em lúcida altivez, eu já sou o passado. Esta fronte que é minha, prodigiosa De núpcias e caminho É tão diversa da tua fronte descuidada. Tateio. E a um só tempo vivo E vou morrendo. Entre terra e água Meu existir anfíbio. Passeia Sobre mim, amor, e colhe o que me resta: Noturno girassol. Rama secreta. Do amor contente e muito descontente Tudo é triste. Triste como nós Vivos ausentes, a cada dia esperando O imutável presente. Tudo é triste. Triste como eu Antiga de carícias De olhos e lamentos Lenta no andar, lenta Irmã De algum canto de ave De silêncio na nave, irmã. Vamos partir, amor. Subir e descer rios Caminhar nos caminhos Beijar Amar como feras Rir quando vier a tarde. E no cansaço Deitaremos imensos Na planície vazia de memórias. XXXIII (de Cantares de perda e predileção) Se te pronuncio Retorno um Paraíso Onde a luz se faz dor E gelo a claridade. Se te pronuncio É esplendor a treva E as sombras ao redor São turquesas e sóis Depois de um mar de perdas. Vigio Esta sonoridade dos avessos. Que se desfaça o fascínio do poema Que eu seja Esquecimento E emudeça.