(in)Competência em tempos modernos

Aparentemente a burrice veio para ficar, instalada nos cérebros humanos como se fosse um programa de computador – que, principalmente aqueles que mais a utilizam, enchem a boca para dizer “software”.

A cada dia que passa, as relações humanas – principalmente no campo das relações comerciais, se tornam mais difíceis.

A internet – computador, celular, redes sociais etc., só demonstra o encolhimento da massa cinzenta correspondente ao cérebro dos seres humanos.

Chego no caixa da padaria. Ele me dá a conta: “R$ 18,10”. Pego uma nota de R$ 20,00 e uma moeda de R$ 0,10 e tento pagar.

De imediato ele devolve a moeda. E pergunta: “Tem trocado?”, respondo “Não.”

A pessoa olha para a nota, olha para a tela, pega uma calculadora, liga, mexe, mexe e pergunta: “Tem dez centavos?”

Eu pego de volta a mesma moeda que foi devolvida e coloco na mão da criatura, que a pega novamente, e pega também a nota de vinte reais, liga de novo a calculadora para ver qual o troco

Vou a uma loja de material de iluminação procurar uma peça para reposição. Escolho uma dourada e pergunto para a criatura que grudou nas minhas panturrilhas desde que pisei no show room:

“Tem de outra cor, que não seja dourado?

“Tem.”

“Quais cores você tem?

“Que cor a senhora quer?

“Prateado.”

“Não tem.”

“E quais as outras cores que você tem?

Ele, com toda a pompa, vai até uma mesa, mexe no computador, olha atentamente para a tela e responde:

“Tem ouro, cobre, prata, branco, preto e vermelho.

“OK, quero prata.”

“De que material?”

“Do que tiver.”

“Que cor?”

“Prata”

“De prata nós não fazemos”

“Pode ser de outro material que vocês fazem”

“De que cor?”

“Prata”

“Alumínio ou aço?”

“De qualquer material que tiver, desde que seja na cor prata.”

O cidadão, ainda imbuído de ostentação, abre um armário sob a mesa e pega algumas amostras – quadradinhos de uma liga com metal, de várias cores. Escolhe algumas e me mostra:

“Temos essas cores.”

Escolho uma amostra, na cor prata.

“Quero dessa cor.”

“Ah, a senhora quer escovado.”

“Escovado?”

“Sim, esta cor se chama escovado.”

“OK, então eu quero escovado” (E nem tinha essa cor no rol que ele leu duas vezes no computador).

“Mas a senhora não queria prateado?”

“Tem prateado?”

“Não.”

“Tudo bem, se não tem prateado, levo o escovado.”

“De que cor?”

É muito para mim. Desisto. Chega. Vim embora sem comprar nada…

(Imagem: banco de imagens Google)