A trilha sonora da vida

A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende. (Arthur Schopenhauer)

 

Acredito que cada vida tem sua própria trilha sonora. A canção que a uns traz tantas lembranças, a outros pode nada dizer…

As cantigas de ninar foram iguais para todos. O tom da voz que as entoava que diferenciava umas das outras. Como a Marcha Nupcial de Mendelssohn que tocou séculos para todas as noivas, mas não fez iguais todos os casamentos.

Já tanto a Marcha Fúnebre de Chopin quanto a Marcha Fúnebre Militar (ou Toque de Silêncio) igualaram a situação de todos os protagonistas da cerimônia.

Há pessoas que são capazes de reviver uma situação apenas ao ouvir uma simples canção, ficaram marcadas pela situação e não se esquecem da música que desperta a lembrança.

Qual seria a trilha sonora da vida de cada um de nós?

Eu começaria com Aubrey (and Aubrey was her name, a not so very ordinary girl or name…)

Ou One day in your life (… I’ll reach out my hand to you, I’ll have faith in all you do, Just call my name and I’ll be there…)

Passo, claro, pelos “clássicos” Champagne, Roberta, Uma lacrima sul viso (Da una lacrima sul viso, ho capito molte cose/ dopo tanti tanti mesi ora so cosa sono per te. / Una lacrima e un sorriso m’han svelato il tuo segreto / che sei stata innamorata di me ed ancora lo sei. Non ho mai capito non sapevo che – che tu, che tu tu mi amavi ma, – come me, non trovavi mai…)

Sem esquecer de Ben (… Andy ou, my friend will see, you’ve got a friend in me, Ben, you’re Always running here and there…)

E tantas canções das décadas de 60/70 a embalar sonhos, namoros e abraços…

Can’t take my eyes of you (I love you baby / And if it’s quite all right / I need you baby / To warm the lonely nights / I love you baby / Trust in me when I say…)

E há, ainda, toda a carga musical trazida pelos anos de estudos no Conservatório Musical…

E a vida não para, surgem novas experiências, novas pessoas, e a trilha sonora a marcar momentos.

Wave, sempre Wave, tantas vezes Wave ainda que eu não quisesse ser o piano…

Insensatez que nos mostrava o quanto não é possível ser sensato na paixão, que lembra as espumas das ondas de um mar que já não há.

As insuperáveis Bachianas Brasileiras nº 05 que marcam uma tarde tão distante, jamais esquecida…

Por vezes, distraídos, seguimos nossos caminhos. E de repente, em um local público, ou mesmo no rádio de nosso carro, subitamente uma canção nos puxa a um passado distante, mas gostoso, que ficou marcado por uma música. Que nem sempre é bonita, ou moderna, ou empolgante. Mas nos transporta a um tempo que passou.

Assim acontece quando ouço Êxtase. Tempo bom da piscina da Apea em Presidente Prudente… todos os dias, religiosamente, o autofalante externo tocava essa música às 11:00. Tornou-se “meu aviso”: hora de recolher tudo e ir para casa, com tempo contadinho para banho, almoço e chegar no estágio com um grande mestre de vida, Dr. Élcio…

Te amo, Espanhola… que ficou perdida numa noite distante…

Bridge over troubled water, S’il faut mourir un jour… Mrs. Robinsons, The End,  Le vent, le cri, Aux creux de mon épaule… Mourir d’aimer… Hier encore… La vie em rose

São tantas, tantas as músicas de minha vida e tantas são as lembranças que trago comigo… As canções mais tristes já compostas – Atrás da porta, Ne me quittes pas…

Mas de todas, todas as músicas mais marcantes, há uma que nenhuma recordação objetiva me traz, mas tira meu chão, talvez por lembranças de outra vida, Fantasie Impromptu in C sharp minor, Opus 66, de Chopin… “minha” maravilhosa Fantasia Improviso…

Minha biografia pode não ser escrita – apenas uma sucessão de arquivos musicais…