Assisti – revi, ou, melhor dizendo revivi – ao filme Os Girassóis da Rússia.
Uns quarenta e muitos anos desde que o vi a primeira vez e o encanto permanece.
A música – maravilhosa. A trama – algo realista, remete a um passado que não se sabe se visto ou vivido.
Posterior ao auge do neo-realismo do cinema italiano,do qual Vittorio de Sica, um de seus mestres, brindou o mundo com a história do casal Antonio-Giovana (Mastroiani e Loren), num filme onde a poesia visual impera.
Sem grande pretensão literária, retrata a estória de um jovem casal apaixonado que é separado pela segunda guerra.
Ele vai combater na Rússia. Não volta. Mas também não é relacionado ente os mortos em batalha.
Buscando notícias ela consegue saber que ele foi visto pela última vez caído, extenuado, faminto e quase morto em um campo de neve.
Ela parte para a Rússia em busca do marido. Já madura, cabelos embranquecidos, não é mais a menina com quem ele se casou.
Localizado, ele sobreviveu. Casou-se com sua salvadora e têm um filha. Ele, também, envelhecido.
O encontro que não acontece mexe com a vida dos dois. Tira completamente a paz de Antonio. E devolve a vida a Giovana.
Quando – em Milão – acontece o encontro de ambos, dá-se o rompimento. Percebem que ainda se amam, mas a vida os separou irremediavelmente. Ela, entre lágrimas, o vê partir novamente – e para sempre – para a Rússia. Ele, arrasado, novamente a vê ficar em lágrimas na estação. Por amor se separam definitivamente.
Esse roteiro mostra o vazio deixado pela guerra na vida das pessoas.
O filme, realizado de uma forma que era comum não só a de Sica, mas ao neo-realismo italiano, é feito com centenas de figurantes, pessoas comuns, idosas, que vivem nas pequenas cidades italianas, enfrentaram as privações das guerras, mostram no rosto como a vida lhes foi dura e a sorte cruel.
Mas tem um lado positivo – mostra, no cinema, a vida real, onde nem tudo dá certo e o fim não é açucarado como a falsa vida que o cinema americano vendeu ao mundo e criou uma geração de insatisfeitos e frustrados.
Porque a vida é feita de sofrimento e este pode não ter fim. O happy end só existe nos filmes americanos, na maioria bobos e vazios.
O realismo do cinema europeu muitas vezes funciona como um soco, assusta. Você é obrigado a parar, a sentir a dor da pancada moral.
Mas nos faz crescer, e aceitar melhor a vida, com toda a carga negativa que ela nos traz.
Por isso rever, tantas décadas depois, este belo e poético filme, foi um bálsamo, ver que a luta vale por si mesma, não pelo podium final