Era apenas uma lágrima. Gota quente que brotou dos olhos
Na fria madrugada ao receber a mensagem do já esperado adeus.
Esperado, não desejado, não provocado, mas sinalizado.
E a lágrima, lentamente desceu pela face, esfriando e a marcando.
Outras vieram em seguida. Quentes, misturavam-se, e ao final
Todas estavam frias, como era fria aquela triste madrugada.
Geladas, chegaram ao coração. Que até então batia aquecido
Na paixão ardente que o embalava nos últimos anos.
O coração gelou e congelou o sangue. A aurora, mais fria ainda
Aproximou-se e entrou de mansinho, tentando dar um consolo
Àquela alma que se contorcia na dor da perda inexplicada.
A doçura e a mansidão dessa alma a mantiveram em silêncio.
O dia amanheceu, radiante e ensolarado, secando as últimas
Lágrimas que insistiam em cair. E aquela intensa dor da alma
Se transformou em dor física. E tomou conta de todo o corpo.
Anoitecera e adormecera no calor de uma paixão tão linda
Mas amanheceu na solidão silenciosa e dolorida do abandono,
Que cortava como faca afiada. O sol avisou que a vida continuava.
Devastada, aos pedaços, mas não viva, pois algo morrera por dentro,
Levantou-se e enfrentou o dia, já inundada de uma saudade que
Sabe jamais saciada, e se pergunta agora como seguir em frente
Com todos seus sonhos pisoteados, quando nada mais tem a esperar…