Dia de Poesia – Cândido Arouca – Para sempre

Quando dissemos que era para sempre não precisámos de assinar um papel,
de jurar fidelidade,
até que a morte nos separe!
Quando dissemos que era para sempre jurámo-lo com o olhar,
selámo-lo com um beijo.
Eu dentro de ti,
tu receptiva à minha penetração!
Há lá jura melhor!
Contrato algum tem mais valor?
E não foi um “para sempre” dito da pele para fora.
Foi um “para sempre” vindo do coração,
que percorreu todas as artérias,
todas as veias,
todos os capilares.
Que aflorou a cada um dos poros e desaguou nas nossas bocas.
Não fizemos juras,
não prometemos nada,
não exigimos impossíveis,
não fizemos pactos,
não imitamos padrões.
O nosso compromisso assenta apenas numa premissa;
que hoje não nos amamos o suficiente,
que amanhã nos vamos amar mais,
e assim sempre,
todos os dias da nossa vida.»

 

Para quem tem paixão

 

ESTRELA DA TARDE

(José Carlos Ary dos Santos)

 

 

“Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor, minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor, eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor, eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!”

 

Resistir para viver

Ainda que pareça impossível de superar.

Ainda que isso pareça te esmagar todo dia.

Ainda que o desespero tente te fazer parar, aguente mais um pouco.

Não desista de você por nada, por ninguém.

A dor é a onda que passa. Você é o mar que fica.

(A menina e o violão)

 

Ah, palavrinha mágica essa tal de “superar”.

Quase ninguém se dá conta, mas se olhar de relance para trás, perceberá que ainda vive graças – exclusivamente – à própria capacidade de superação.

Desde quando se foi concebido já aconteceu uma superação. Dos milhares de óvulos e milhões de espermatozoides, a concepção se deu pelo encontro de um único óvulo e um só espermatozoide, que superaram todos os outros.

O nascimento requer uma incrível capacidade de superação. De um ambiente aconchegante, úmido, quente, silencioso e escuro, repentinamente a criança é exposta à luz, barulho, frio, secura e desconforto de um centro cirúrgico. Um choque. Mas superamos e sobrevivemos.

E assim pela vida afora – a separação traumática em relação à mãe nos primeiros dias de escola. As frustrações, o inevitável bullying para a maioria. Provas difíceis, notas baixas, quebras de expectativas. E superamos e sobrevivemos.

A confusa adolescência, as primeiras paixões, sem as quais pensávamos morrer. Tudo passou e nós não morremos.

Vida afora, nos estudos, nos empregos, nos amores, fomos lutando e nos superando para continuar existindo.

Tantos problemas a resolver. Tantos boletos a pagar. Tantos risos seguidos de tantas lágrimas. Tantas perdas pela via.

E resistimos. E superamos. E sobrevivemos.

Em nenhum momento a vida ficou mais leve nem mais fácil, mas nossa incrível capacidade de superação sempre nos fez cada vez mais fortes e com mais condições de seguir adiante. E se reinventar quantas vezes for preciso. Vencer todas as batalhas possíveis. Triunfar.

Por isso resistimos e insistimos. E, do alto – onde estamos graças a nós mesmos – olhamos em volta e dizemos: “eu venci”.

Isso é viver.

Maldição

 

Resultado de imagem para morte

Quando meus olhos nada mais puderem ver

E meu sangue, congelado, deixar de correr,

Não chore por mim em nenhum momento

Nem me procure em outras mulheres

Porque fui única em tua vida

E como ninguém mais eu te amei

Se um dia o caminho se desfez em pó

E as pegadas então se apagaram

Perdemos o rumo um do outro

E conhecemos a solidão dos amantes separados

Em cada horizonte visualizei teu perfil

Busquei tua presença e me fiz ausência

Lua e sol se alternavam impassíveis

Poeiras de estrelas alegravam meus atalhos

E te busquei, te busquei em cada novo amanhecer

E te esperei a cada noite que chegava fria

Mas a vida, vazia de carinho, se esvaiu

E a vontade de viver desapareceu

Por isso eu parti – na hora devida

Nem antes nem depois, mas no momento exato

Sem gritos, sem ritos, sem alarde

No silêncio de uma alma enlutada

Só tenha a certeza que não fui feliz

E preferi ir embora desse viver em vão

Mas não precisa chorar por mim nenhuma vez

Porque te deixo a minha ausência concreta

E que terei morrido de tanto amar

E de quem morreu te amando jamais te esquecerás