Só faz versos quem tem a alma cheia de saudades ou de esperanças. (Camilo Castelo Branco)
Desafio do dia: interpretar essa frase, gravada acima, do grande escritor e poeta português, dirigida aos poetas.
Já registro, de início, que concordo, em parte, com o poeta lusitano.
Quem tem alma vazia de emoções ou cheia de materialismo, jamais conseguirá compor um único verso de uma estrofe.
Saudades e esperanças – exatamente o que alimenta a alma dos poetas.
Mas daí surge a dúvida: por que Camilo Castelo Branco diz “saudades ou esperanças”?
Ter saudades é incompatível com ter esperanças? Por que não saudades E esperanças?
Nesse particular eu discordo do talentoso escritor.
Sou poeta.
E minha alma é plena de saudades e de esperanças.
Porque ter só saudades, sem ter esperanças, fatalmente levará à desesperança. Que é mais que o simples desespero que causou o trágico fim do poeta português.
Isso porque a saudade nos isola, tira a realidade, deixa-nos sós, à beira do precipício.
A saudade, composta apenas de ausência, é o maior tormento de uma alma.
É o nada ao qual nos apegamos para não morrermos de desespero. Quando não resta mais nada, vem a saudade ocupar os espaços abandonados em nosso ser.
E se formos apenas saudade, não teremos outro futuro senão mergulhar no escuro vazio à nossa frente.
Mas, se ao lado da saudade, mantivermos a chama da esperança, tudo muda.
Porque a esperança é o oxigênio que mantém acesa a última vela no escuro do coração.
A função da esperança é manter vivas as brasas sob as cinzas da saudade; alimentar a vontade de viver.
Esperança é o fio que nos prende à vida e impede que nos lancemos no precipício do desespero, do abandono, da saudade.
Somente a esperança nos faz sobreviver à derrocada da solidão e da saudade.
Ouso, então, Poeta, por mais que respeite seu legado – por minha experiência de escrever, eu também, meus versos, e trazer a alma inundada de saudades e algumas esperança – corrigir sua frase: “Só faz versos quem tem a alma cheia de saudades E de esperanças”.