Que coisa horrível esse isolamento social! Não aguentava mais ficar dentro de casa na companhia do marido. Resolveu ir embora. Aliás, a ideia já não era tão nova.
Ligou para a melhor amiga.
– Acabo de tomar uma decisão. Vou sair de casa. Acabar de vez com esse casamento.
– Calma. Essa quarentena mexe com os nervos de todos. Não seja precipitada, você pode se arrepender.
– Arrepender de que? Há tempos venho pensando em sair de casa. E a decisão foi tomada.
– OK. E por que você me telefonou? Quer vir para cá? Tudo bem, mas estamos em quarentena cerrada.
– Não, não é isso. Preciso de ajuda, mas diferente.
– Fala! Qual sua dúvida?
– Quantos pares de sapato você acha que devo levar?
– Pelo amor de Deus, amiga!!!! Você está fugindo de casa e pensa em sapatos?
– Claro, não vou viver descalça. Ah, tchau, você hoje está do contra.
– Tchau. Manda notícias. Se precisar de mim de verdade, é só chamar.
Desligou e recomeçou a juntar o que pretendia levar na fuga.
Esse casamento fora um erro. Logo completaria um ano de casada com um homem que já não amava mais.
Há meses vinha pensando em terminar a relação.
E agora, essa convivência forçada, isolados do mundo na mesma casa. Enlouqueceria se continuasse assim.
Pegou mais alguns objetos, fechou a mochila e saiu do quarto. Torcendo para que ele estivesse com a porta do escritório fechada. A porta estava aberta, mas ele não estava lá.
Foi rapidamente para o hall de entrada, onde estavam as chaves da casa e do carro. Pendurado, junto com sua chave, havia um bilhete.
Pegou o papel e desdobrou para ler.
Sentiu o chão sumir sob seus pés em uma vertigem incontrolável.
“Querida, nosso casamento nunca foi o que esperávamos. Tentei o máximo que consegui. Mas esse tempo isolamento social compulsório mostrou que não possível continuar a conviver com você. Acho melhor terminar tudo. Fui.”
Começou a chorar. Como assim, “esse tempo de isolamento”? afinal, estavam apenas no segundo dia da quarentena…