No terror

Várias viaturas fecharam a rua. Homens de farda desceram correndo e começaram a entrar nas casas. Correu para dentro, fechando portas e janelas. Mas isso não bastou.

Em poucos segundos a porta lateral veio ao chão. Armados, encapuzados, eles entravam e berraram. Não conseguia entender nada. Levou uma pancada na altura da costela. Sentiu uma dor aguda.

O pavor lhe paralisava as pernas e tampava os ouvidos. Não conseguia sair do lugar. Escutava vozes mas não entendia as palavras.

Eles gritavam. Via o movimento. Não sabia o que acontecia.

Levou outra pancada. Agora na cabeça. E eles gritavam.

Sentiu medo. Muito medo. Como nunca sentira em toda a vida. A náusea começava a dominar o corpo. Vertigens.

Um deles tirou a máscara e berrou “Onde estão os outros?”

Tentou replicar “Que outros?” mas a voz não saiu.

Eram muitos. Tentou contar quantos. Eles não paravam, iam de um lado para o outro, entravam em um cômodo, saíam de outro. Era impossível contar quantos.

“Vocês estão em quarentena” gritou o mesmo que estava sem máscara. “Quem autorizou abrir a janela e olhar lá fora?”

Era a própria face do terror. Abrira um pouco a janela para respirar, para ver a árvore que havia ali, tinha saudade do verde, do ar… tinha saudade da liberdade.

Recebeu outra pancada. Tudo ficou escuro e silencioso.

Acordou do pesadelo, olhou em volta, a casa calma, todos dormindo. Foi em busca de um copo de água, para acalmar o coração. Não teve coragem de olhar pela janela da cozinha. Tempos de isolamento social tiram o chão e perturbam a paz… não tinha dúvidas.

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