Conversa com meu avô n° 10

Vô, que saudade!!!! Faz tempo que não conseguimos conversar… As coisas estão acontecendo em uma velocidade tão louca no mundo que está difícil acompanhar até para quem está vivendo aqui.

Não, vô, ninguém quer o impeachment do atual Presidente da República. Ele é um cara bom, Capitão do Exército, reformado, sério, segue a máxima “não rouba e não deixa roubar”.

E isso está incomodando muito. Os políticos fisiológicos, useiros e vezeiros em meter os dedos podres no dinheiro público, hábito muitas vezes passado de pai para filho, estão extremamente revoltados. Simplesmente não tem negociata para aprovação de emendas. Por isso, vô, essa queda de braço entre executivo e legislativo. Simples assim.

A manifestação foi para o povo demonstrar seu apreço e seu apoio ao Presidente da República. E, ao mesmo tempo, o repúdio aos presidentes da câmara, do senado e do supremo tribunal federal, extensivo a vários membros dessas casas.

Claro, vô, que eu estava lá. Com exceção de uma das manifestações, ocorrida no ano passado, que o senhor sabe bem que eu não tinha a menor condição de deixar a situação lá em casa e vir para São Paulo, eu estive em todas.

Sei que é uma bagunça. Tem gente de todas as tribos – aparecem monarquistas, intervencionistas, todo tipo de istas. Mas faz parte. Porque são todos brasileiros. E querem, cada um a seu jeito, de acordo com seu entendimento, o melhor para o país.

É tão intenso esse sentimento, vô, que para tentar atrapalhar soltaram todos os tipos de boatos, proibiram manifestações, o próprio Presidente da República veio pedir ao povo para não ir, e fomos.

Sem movimentos organizados, sem líderes, nada. Sem pagamentos, brindes nem nada. Apenas o povo. Espontaneamente. Nem uma lixeira quebrada. Nem uma flor pisada nos canteiros.

E mandaram abrir para o trânsito a Avenida Paulista, aqui em São Paulo, que há anos fica fechada aos domingos. Na maior paz o povo a ocupou e a fechou aos carros. A polícia militar, fortemente presente, ali permaneceu garantindo nosso direito de manifestação.

Foi lindo, vô. Não foi a maior manifestação. Mas muito emocionante. Nosso povo finalmente acordou. E o maus políticos não conseguem mais dormir.

Sabe, vô, o que é mais surpreendente?

Há um ano e dois meses não tempos um único escândalo de roubo, desvio, abuso, nada, com relação ao Executivo

Isso é o MÁXIMO. Por isso votamos nesse Presidente.

O que mais o senhor queria entender melhor?

Ah, sim, o tal Corona vírus.

Apareceu uma epidemia disso aí na China. Falaram que era transmitido pelos morcegos. Ou cobras. Também cães. Não sei dizer ao certo a origem.

Da China foi espalhando. Pessoas de idade principalmente, e portadores de doenças crônicas morreram.

Aí, de repente, chegou na Europa e acabou com a Itália. Ficou completamente fora de controle. Forçou o fechamento das fronteiras. Mesmo assim já estava disseminado pelo mundo todo.

Foi considerada pandemia pela OMS, levando todos os países a tomarem medidas e adotar providências, porque há grande demanda por leitos de UTI, respiradores etc. E nenhum – NENHUM – país do mundo está preparado para essa emergência. Nem rede pública, nem rede particular.

Aqui em São Paulo está, de um lado – da população – uma histeria coletiva completamente exagerada. E de outro – da funcionalidade da cidade – uma beleza, sem trânsito, sem aglomeração, maravilha. E faltando tudo nos mercados. O povo acabou até com os estoques de papel higiênico. E pense que a epidemia é tipo gripe e não diarreia. Pois é…

Vamos ver mais falências do que falecimentos.

Uma crise econômica de dimensão universal. Todas as bolsas de valores com  quedas históricas e devastadoras. Menos a China. Que está saindo da crise que criou bem maior do que entrou. Não sei, vô, como eles fazem isso, não sou economista nem golpista. Não entendo muito dessas coisas.

As principais ocorrências são essas, vô; no mais, continua tudo igual.

Qualquer coisa que quiser saber, o senhor sabe: é só me chamar.

Sem palavras

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Quando você chegar

Na hora mágica do nosso encontro

Não diga nada. Absolutamente nada.

Deixe que seus olhos digam o quanto me procuraram

E que sua boca sacie, na minha, a sede da caminhada

E que suas mãos em meu corpo demonstrem o tamanho

Da saudade que você sentiu de mim

Mas não fale nada. Absolutamente nada.

Apenas sorria pela felicidade do reencontro

Esse seu sorriso maroto e de garoto arteiro

Olhe nos meus olhos com seu olhar profundo

Que atravessa meu ser e chega à minha alma

Abrace-me com sofreguidão de quem nunca

Foi abraçado com paixão nessa vida

Beije-me com todo o desejo contido no universo

Não quero palavras vãs, não quero explicações frágeis.

Por isso, quando você chegar

Na hora mágica do nosso encontro

Não diga nada.

Nada precisará ser falado.

Dia de Poesia – Pablo Neruda – Soneto LXVI

Não te quero senão porque te quero

e de querer-te a não querer-te chego

e de esperar-te quando não te espero

passa meu coração do frio ao fogo.

 

Quero-te apenas porque a ti eu quero,

a ti odeio sem fim e, odiando-te, te suplico,

e a medida do meu amor viajante

é não ver-te e amar-te como um cego.

 

Consumirá talvez a luz de Janeiro,

o seu raio cruel, meu coração inteiro,

roubando-me a chave do sossego

 

Nesta história apenas eu morro

e morrerei de amor porque te quero,

porque te quero, amor, a sangue e fogo.

 

E por falar em corona

Os alarmistas de plantão se babam de alegria ao verem os índices atualizados de propagação do novo corona vírus.

Poucos tinham o hábito da internet nas anteriores formas de disseminações de “tão terrível” vírus. E não liam jornais. E televisão só servia para ver novela. Portanto, não sabem que o corona pertence a uma grande família viral, conhecida desde meados de 1960. E não se lembram do SARS e do MERS, respectivamente em 2002 e em 2012.

Para a grande maioria, corona era marca de ducha, não passava de “um banho de alegria num mundo de água quente”.

Ou se esqueceram ou não escutaram o estrondo do trovão e agora se assustam com um simples traque.

E não percebem que não morreram em duas epidemias causadas por vírus da mesma família, da qual esse “novo corona” é o que tem menos gravidade. Sua ação se equipara a um resfriado comum e leve. Exceto para o grupo de risco – idosos e pessoas com problemas que causam baixa imunidade.

E não há necessidade de correr para o hospital para exames preventivos. Nem andar de máscara.

Talvez um pouco de bom senso. Há instruções do Ministério da Saúde? Siga-as.

Tem dúvidas? Converse com seu médico de confiança.

Está apavorado? Olhe para dentro de você e veja o que, na verdade, está causando o pavor. Porque não é um vírus que causa menos que uma gripe que vai matar toda a população do mundo.

O povo anda meio carente de tragédias, grandes desastres e epidemias tipo gripe espanhola. Não tem heróis no presente nem perspectivas de futuro. Então busca no passado uma desgraça para justificar pânico no presente e pavor do futuro.

Quando essa situação acabar, vamos comparar, no mesmo período, o número de mortos pelo novo coronavirus aqui no Brasil, com as vítimas do sarampo, da dengue, da violência urbana e dos acidentes de trânsito…

Aos pares

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Pássaros livres, voando aos pares

Que assim escolheram viver, a dois.

A paixão que os liga e mantém juntos

Vive o agora, não pensa no depois

 

Fiéis um ao outro e a si mesmos

Voam leves e fugazes no infinito

Brincam com a vida, sempre felizes

 

Nada os preocupa nem tolhe

Suas asas lhe garantem o viver

Até que os separa a cruel pontaria

 

E vê cair, indefesa, de inopino

A companheira, no voo abatida,

Pela pedra do moleque do destino

O tempo, o vento e o riacho

Na vida somos tempo, vento e riacho.

Porque há diferença no nosso agir, de acordo com as circunstâncias e as pessoas com as quais nos relacionamos. Com mais ou menos sentimentos, com mais ou menos intensidade, tudo depende do momento vivido.

Quando apenas passamos, indiferentes, somos tempo. Nada nem ninguém pode nos conter e poucos se dão conta de nossa passagem. Depois que já estamos longe, perplexos, perguntam-se por que nos fomos tão rápido, não nos detivemos um segundo sequer a mais diante do belo, do agradável, do que dá prazer. Mas somos o tempo – não podemos parar e seguimos rumo à eternidade.

Também somos vento.

Vento porque passamos tirando muita coisa do lugar, mostrando cantos que estavam perdidos no meio do pó acumulado de vidas desperdiçadas, passamos varrendo as folhas mortas, limpando os caminhos, bagunçando o cabelo das meninas e as saias das mulheres. Esvoaçamos em todas as direções, sem leme nem bússola. Levamos os papéis que estavam esquecido sobre as mesas. Sujamos de terra e areia as roupas estendidas nos varais, batemos portas e janelas com estrondo. Todos percebem nossa passagem, quando se dão conta que nada mais é como era antes de passarmos; mas nada nem ninguém pode nos conter. O vento nunca se detém nem para, apenas venta e segue seu destino.

E, outras vezes, somos riacho. Encontramos nossos semelhantes, com os quais cruzamos e por vezes caminhamos juntos alguns trechos e depois cada qual segue seu destino. Uns se perdem e secam pelo caminho. Outros aproveitam todas as chuvas e nascentes e se fortalecem. Seguem em correnteza volumosa, levando consigo tudo que conseguem alcançar, extrapolam seus limites, tornam-se rios. Por vezes se deixam até mesmo navegar. Mas não param. Nada pode contê-los – no máximo, represá-los temporaria e parcialmente, mas as comportas têm de ser abertas – seja pela partida em busca de outras oportunidades, seja pela separação, seja pela vontade de seguir seu próprio destino sem cordas nem anilhas. E seguem, com suas margens alargadas, cumprindo sua sina, que é morrer no mar.

Somos tudo isso. Simultaneamente. Destinos marcados e solitários. Por isso a inutilidade das preocupações e da ansiedade – seremos, apenas e sempre, – o deslocamento no caminho que nos leva do nascimento à morte.