Hoje estou com muita preguiça de escrever! Ofício ingrato este da escrevinhação! E dá trabalho!
Pense bem: temos 23 letras. Alguns sinais. Pontos e vírgulas.
E tenho de me virar só com isso para escrever contos, crônicas, livros, poesias… não é possível inovar.
E mais: só posso usar as palavras que os outros já inventaram e no sentido que se lhes deram. Nem inventar palavras me é permitido. A não ser que eu fosse um Guimarães Rosa, a quem o neologismo foi chamado de arte.
E não adianta comprar dicionários. Eles não fazem de você um poeta nem um escritor. No máximo, ajudam a escrever corretamente.
Nasci humano. Tenho de me contentar com as humanas limitações.
Se me fosse dado escolher, nasceria pássaro. De grandes asas e altos voos.
Pairaria sobre as cidades e os campos, conheceria todos os continentes, voaria sobre mares e cordilheiras. E nunca precisaria escrever nada.
As árvores também não escrevem. Mas eu não gostaria de ser árvore. Nascer, viver e morrer com raízes fincadas no mesmo lugar. Eu só nasceria e morreria, jamais viveria.
Nem bicho, nem peixe, nem flor, nem borboleta. Queria ser pássaro. Um condor. Um falcão.
Meu instinto seria voar. Jamais teria raízes nem âncoras. Só asas e o espaço para voar livre. Como destino, a liberdade.
No entanto, pequena humana que sou, sem asas nem raízes reais, eu as tenho imaginárias. As asas eu mesma as cultivo. As raízes – e âncoras – são impostas pela vida. E por mais que me sinta livre e tente voar, tenho de voltar ao mesmo lugar. E escrever é o caminho dessa vida.
Para não enlouquecer, para voar sobre o mundo, escrevo.
Como destino, a fuga pelas letras.
Super me identificando com seus textos! Feliz de achar sua escrita pelo caminho desses dias ❤
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