Talvez amor

“Talvez o amor não passe de uma deliciosa ilusão que se realiza em momentos sagrados, raros. Quando ele acontece é aquela felicidade imensa, aquela certeza de eternidade. Ah! Como os apaixonados desejam sinceramente que aquela felicidade não tenha fim! Mas o amor, pássaro, de repente bate as asas e voa… Brincando, faz tempo, eu sugeri que um casamento que se baseasse no amor teria de ser efêmero – porque o amor é sentimento, e os sentimentos não podem ser transformados em monumentos.” (Rubem Alves)

Conversa com meu avô n°14

Pois é, vô, quanto tempo!!!!!! Ao mesmo tempo em que o tempo não passa desde que começou essa doença e até hoje não conseguimos voltar ao que era o nosso normal, o tempo está passando muito depressa… paradoxal. Mas verdadeiro.

Já passamos da metade do ano. Ontem foi feriado de Corpus Christi, e o senhor sabe, passou esse feriado, pode começar a desembaraçar os fios do pisca-pisca da árvore de Natal…

Eu sumi? Eu? E, por acaso, o senhor, tem vindo conversar comigo? O senhor não queria mais notícias daqui de baixo, alegando que eu só falava de tristeza, corrupção, crime… Mas sempre o senhor ensinou a falar a verdade sem rodeios, e aqui é só isso.

Na verdade, algumas alegrias acontecem na nossa abençoada família – mais um casamento, com uma linda festa, e mais quatro bebês neste ano. Nem sei o que seriam – filhos de seus bisnetos… Na linha que o senhor nos legou, a família continua crescendo.

Ah, o senhor quer saber da doença da pandemia (e depois eu que falo em coisas ruins, kkk) – pois é, o tal covid continua assombrando a humanidade.

Até três anos atrás, no outono, havia uma virose sazonal que atormentava principalmente as patroas e as mães de crianças pequenas – todo mundo “pegava virose”. Ia ao consultório de um sujeito paramentado de branco, que havia feito seis anos de medicina, dois de residência, mais dois de especialização e ele dizia: “é virose. Tome bastante líquido e faça repouso.” Nunca foi pedido um teste nem exame de laboratório.

Agora, o povo tem a mesma virose e a primeira coisa que o médico faz é pedir teste de covid.

E mais nenhum.

Se o virótico teve contato com o vírus, o teste de vírus vai confirmar a presença do vírus. Mas não afirmar que o paciente está com covid… mas já é considerado “covidoso” e, heroicamente, entra para as estatísticas do covid. Se fizer o teste da influenza vai dar também, se fizer do rotavírus, norovírus e o diabo-a-quatro.

Mas o pânico ainda domina e todo mundo acha lindo falar que está com covid.

É isso, vô, o que está acontecendo para fazerem de conta que a pandemia continua e assim lucrarem mais um pouco em cima da doença – que realmente existe e teve uma fase bem grave. Mas, por outro lado, nunca uma doença gerou tanto lucro para uma parcela do empresariado e uma miséria tão esparramada para a grande maioria da população.

A eleição? vai ter, sim. Em outubro. Mas o presidente e seus coligados ainda estão proibidos de fazer campanha. Só os adversários podem antecipar. Por isso o senhor não vê nem ouve nada dos candidatos mais sérios. Logo começará tudo.

Eu? não, vô, eu não vou me empenhar em nenhuma campanha, não estou disposta a continuar trabalhando em e com política. Minha vida está muito complicada para eu me envolver com isso. Eles que façam suas campanhas. Espero que não tenha facada desta vez.

Pela primeira vez em décadas, vou ignorar a política.

Claro que irei votar. Não estou falando em omissão. Mas em não-envolvimento com a campanha.

Está bem, se for preciso eu poderei colaborar em alguma campanha. Mas vamos esperar chegar mais perto das eleições e então conversaremos a respeito, pode ser?

Já? Como assim, já está tarde? O senhor anda muito ocupado aí do outro lado, pensei que passaríamos a tarde conversando hoje…

Está bem, eu vou esperar o senhor me chamar de novo qualquer dia destes para continuarmos esta conversa. Até…

Dia de Poesia – Roberto Ferrari – Oceano

Este infinito amor que tenho por ti
É maior do que o tempo, maior que a vida
Este amor que é real, profundo
Habita nossas almas e nossos corações.

Este amor que surgiu de repente
E que dentro das nossas solidões
Foi o bálsamo, foi o encontro
De duas almas sofridas e carentes.

Este amor meu é como o oceano
Um oceano noturno, infindável
A beijar as areias pela eternidade.

E que em sua profundidade me leva
Iluminado de paixão e desejo
Para no horizonte infinito te encontrar.

(Imagem: foto de Maria Alice)

Poesia da casa – Esquecer

Hoje eu resolvi esquecer você.

Vesti-me de amor, perfumei-me de paixão.

E então me recordei de toda nossa história.

Daquele beijo que foi o início e o fim

Da longa separação forçada

Da distância intransponível.

E deixei doer. Livremente.

Como se o beijo tivesse sido ontem

E sua partida tivesse sido hoje.

Não tentei, dessa vez, impedir as lágrimas.

E repassei, mentalmente, todas as lembranças

E chorei. Intensamente.

Até o dia mágico do reencontro.

E senti novamente o encanto de sua presença

Estivemos juntos esse tempo

E a paixão dominou

Agora, chega a hora de dizer adeus

Seguir cada qual o curso de sua própria história

Desapaixonar-me. E isso machuca. Dói muito.

Mas é preciso colocar esse ponto final

Em uma história que teve tantas reticências

Com a mesma ternura que começamos

Devemos nos deixar para sempre

Por isso hoje eu decidi que é minha hora de ir

E peço, com todo carinho a você:

Comece, meu amor, comece hoje

Também a me esquecer.

(Imagem: banco de imagens Google)

Uma poesia musicada ou uma vida poetizada?

A pioneira Stefana de Macedo – a mulher que ousou compor quando isso era tarefa reservada aos homens e nos trouxe essa pérola de sentimento…

Era o meu lindo jangadeiro
De olhos da cor verde do mar
Também como ele traiçoeiro
Mentiu-me tanto o seu olhar
Ele passava o dia inteiro
Longe nas águas a pescar
E eu intranquila, o seu veleiro
Lá no horizonte a procurar
Mas quando a tarde escurecia
Um sino ouvia a repicar
A badalar a Ave Maria

Via uma vela sobre o mar
Era o meu lindo jangadeiro
Em seu veleiro a regressar
E à praia o seu olhar primeiro
Buscava ansioso o meu olhar
Quando ditosa eu me sentia
Passava os dias a cantar
A ver se em breve escurecia
A hora feliz do seu voltar

Mas há na vida sempre um dia
Dia de um sonho se acabar
Este me veio em que não via
O seu veleiro regressar
Não mais voltou o seu veleiro
Não mais o vi por sobre o mar
O seu olhar lindo e traiçoeiro
Não buscou mais o meu olhar
Por uma tarde alvissareira
O sino ouvi a repicar
Era o meu lindo jangadeiro
Que ia com outra se casar

Texto de Alice (não eu!)

Há dias em que não dá para escrever. O corpo dói, a alma dói, o coração sangra… então trago um texto de Alice (não sou eu e desconheço a identidade – o texto veio apenas e singelamente assinado ALICE)… e vale a pena ser lido …

Somos beijos e abraços
Somos saudade de nós
Momentos de amor que ficam
Para quando estivermos sós.
Somos o vento e o tempo
Que nos magoa e afaga
Somos o sol e a chuva
Afecto que nunca acaba.
Somos o cheiro da terra
Onde pisamos sem medo
A maresia que guarda
O teu e o meu segredo.
Somos a alma que chora
Nas partidas magoadas
Os pés cansados de andar
As mãos que querem ser dadas.
Somos um só coração
Batendo no mesmo lugar
Almas que se procuram
Num abraço, num olhar.
Somos a fé que nos fica
Na ausência que nos mata
A solidão que caminha
Nos nós que ata e desata.

Somos sentidos
Intensos
Corações presos
Imensos.

(Imagem: banco de imagens Google)