Ama-me quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso …
A interdependência entre as pessoas torna a convivência insuportável.
Por razões que datam das origens dos animais, os homens têm necessidade de viver em grupo e, dentro deste, de ter uma companhia exclusiva – o que não ocorre no mundo animal irracional com raríssimas exceções.
Além de formar um casal que se pretende indissolúvel o humano exige fidelidade (que não cumpre), talvez por receio de sustentar filhos alheios…
Pensante, o homem desenvolveu rituais para o acasalamento e inventou sentimentos.
Assim surgiram a atração, a paixão, e depois o amor e a amizade para manter a união ao longo dos anos.
Por isso o antigo flerte (acho que nem existe mais), o namoro (que não existe mais), o noivado (que não existe mais) e o casamento (que ainda existe mas invertido, com direito a test drive para ver se é aquele parceiro mesmo que se quer adquirir para o resto da vida, que vai durar somente algum tempo…).
De qualquer forma, toda a modernidade não conseguiu extinguir a atração nem a paixão.
Da atração vem a paixão, desde que o outro não seja doce de leite (tipo que no começo é sensacional, mas depois da terceira colherada ninguém aguenta mais).
Se os dois têm uma boa cabeça e melhores intenções, daí surge uma convivência harmoniosa, que acabará em casamento. Acabará mesmo, literalmente, na maioria das vezes.
Porque o egoísmo do ser humano impede a manutenção de uma relação harmônica e leve.
Sem se saber de onde vêm, começam a surgir cobranças, exigências, palavras ásperas.
Cada um projeta no outro seus fracassos, suas expectativas frustradas, põe sobre os ombros do parceiro o peso da própria incompetência e nada consegue perdoar, tudo é motivo de briga.
Um olha para o outro e já não enxerga mais o objeto da atração inicial, foi-se a paixão e o amor não chegou a ser construído. E é o fim.
Perdido o respeito, nada há a salvar, impossível continuar juntos.
Antigamente as mulheres – sempre coitadas – não podiam simplesmente ir embora.
Sem opção de controlar o número de filhos, sem emprego, sem ganho e sem renda, como fariam para deixar o marido e tentar a vida sozinhas, cheias de filhos?
Isso foi a mudança mais radical na estrutura familiar: a possibilidade de limitar o número de filhos, a condição de ter um emprego sério e ganhos suficientes para se sustentar e à família e, finalmente, o fim do preconceito contra a mulher separada do marido.
Mas aí fica a pergunta: a família começou tão sonhada para acabar assim, como um papel pisado?
Será que não é possível, na grande maioria dos casos, tentar continuar, não de forma bélica, mas buscar cada um dentro de si aquele namorado/a apaixonado/a, reacender a velha chama da atração, sentir que vale a pena ficar juntos, ainda que pisando em algumas pedras?
Porque sozinho ninguém vai ficar mesmo, e a segunda, a terceira e outras relações subsequentes fatalmente sofrerão o mesmo desgaste…
No fundo, o que falta mesmo é amor. Alicerçado na paixão e no companheirismo, no prazer de estar junto.
E o que sobra é egoísmo.